Me chame de feminista!

Sou feminista desde que entendi o significado desta expressão: luta pela igualdade, luta pelos direitos das mulheres, luta pelo direito de ser mulher. Continuar sendo feminista nos dias atuais tem sido um exercício diário e importante. São muitas as pautas e há divergências na linha de pensamento. Nós, mulheres, não pensamos todas iguais porque realmente não somos. São pautas diferentes para necessidades diferentes. É só pensarmos um pouco na divisão do trabalho e na relação patrão e empregado. Vamos colocar no feminino: a patroa e a empregada. Não é uma relação igual. Já ouvi patroa culpar empregada por ela não querer ‘subir’ na vida, por não estudar, por não se esforçar. Não ouvi ela falar de facilitadores para esta mulher. Não ouvi ela garantir bolsa de estudo, horário diferenciado etc etc... Só culpa, sem fazer exame de consciência, sem empatia. Quantas de nós, feministas assumidas, já saímos para eventos deixando outras mulheres garantindo que o serviço de casa fosse realizado? Já vi de perto esta situação até mesmo nas Conferências dos Direitos das Mulheres. Representatividade é importante e necessária. Cecília Toledo em um artigo publicado há alguns anos definiu bem o que somos: ‘o gênero nos une, mas a classe nos divide’. Ou seja, somos realmente mulheres (incluindo tod@s), porém, a classe a qual alguém nos colocou nos divide. E ainda temos que acrescentar que esta divisão se configura ainda na raça. Não é mimimi, expressão horrenda deste milênio. Para começar a entender esta diferenciação é preciso estudar e olhar ao redor. Um triste exemplo é o caso da patroa que colocou uma criança de 5 anos no elevador, e que a levou a morte. A mãe da criança fez a pergunta sem resposta ‘e se fosse o contrário’? A delegacia abriu mais cedo para o depoimento da ex-patroa. Quantas vezes vimos isso acontecer em outras circunstâncias? Estou refletindo muito sobre os mundos paralelos nos quais estamos vivendo. Não ache que somos iguais e que estamos todas iguais. Há mulheres que não tem o que comer hoje. Não tiveram ontem e não terão amanhã. Há mulheres por aí que não me representam. Porém, precisamos ter noção clara que somos pessoas privilegiadas – temos acesso à cultura, ao lazer, as discussões políticas, ao sobe e desce da bolsa e por aí vai. Precisamos urgente pensar em políticas públicas ouvindo a voz de todas as mulheres. TODAS: das catadoras de lixo, das mães solo, das chefes de família, das sapateiras, das gestoras, das secretárias, das enfermeiras, das médicas, das artistas, das advogadas, das engenheiras, das professoras (todas), das cientistas, das matemáticas, das prostitutas, das biólogas, das avós, das curandeiras, das jornalistas, das balconistas, das recepcionistas, das atendentes de telemarketing... das assistentes sociais... Temos muitas experiências e elas precisam ser compartilhadas e integradas. Precisamos nos fazer ouvir e uma precisa estender a mão para a outra, firme, para que o slogan ‘ninguém larga a mão de ninguém’ seja só um slogan sem o menor sentido prático. Precisamos arregaçar as mangas agora. E há várias maneiras de fazer isso. (S.V.C).


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